PUBLICIDADE Quem era o Hamburgo de 1983: Parte 1- Os Titulares do HSV e a reconstrução do elenco campeão europeu

Quem era o Hamburgo de 1983: Parte 1- Os Titulares do HSV e a reconstrução do elenco campeão europeu

 

O Hamburgo campeão europeu e o desafio de manter a força até o Mundial

No dia 11 de dezembro de 1983, o Estádio Nacional de Tóquio recebeu um duelo que marcaria para sempre a história do futebol mundial. De um lado, o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, campeão da América; do outro, o poderoso Hamburger Sport-Verein, campeão europeu e símbolo da força germânica no início dos anos 80.

O confronto entre brasileiros e alemães valia o título de melhor time do mundo. Renato Portaluppi, com sua irreverência e talento, seria o herói gremista ao marcar os dois gols que garantiram o título. Mas, por trás da derrota europeia, havia um enredo complexo — lesões, mudanças no elenco e até desentendimentos internos que explicam parte da queda de rendimento do Hamburgo.


 Entre Atenas e Tóquio — duas realidades diferentes

Quando o Hamburgo venceu a Juventus por 1 a 0 na final da Copa dos Campeões da Europa de 1983, o clube vivia seu auge. O gol de Felix Magath em Atenas coroava uma equipe sólida, técnica e mentalmente implacável.

Porém, entre aquele 25 de maio e o 11 de dezembro de 1983, muita coisa havia mudado. O intervalo de quase sete meses entre a decisão continental e o Mundial foi suficiente para que o elenco se transformasse. Jogadores importantes deixaram o clube, outros se lesionaram e alguns veteranos começaram a sentir o desgaste da temporada.

O resultado: o time que enfrentou o Grêmio já não era o mesmo campeão da Europa. Embora sete jogadores tenham participado das duas decisões, as ausências de nomes fundamentais foram decisivas.




As baixas mais sentidas — Kaltz, Hrubesch e Milewski

A primeira perda significativa foi a do lateral-direito Manfred Kaltz, referência técnica e símbolo do Hamburgo. Experiente e campeão mundial pela Alemanha em 1982, Kaltz sofreu uma lesão muscular grave na coxa direita durante a Copa dos Campeões de 1983/84.

Jornais como Der Spiegel e Zero Hora confirmaram que o atleta ficou semanas afastado. O Hamburgo tentou recuperá-lo às pressas, mas o “grandalhão Kaltz”, como o chamava a imprensa brasileira, acabou vetado da viagem a Tóquio.

Jürgen Milewski em ação pelo Hamburgo

Outro desfalque importante foi Horst Hrubesch, o artilheiro e líder de vestiário. Com 32 anos, o centroavante havia sido transferido para o Standard Liège, da Bélgica, encerrando um ciclo vitorioso. O dinamarquês Lars Bastrup, seu parceiro no ataque, também deixou o clube. Ambos não foram substituídos à altura.

E havia ainda Jürgen Milewski, o driblador da ponta esquerda, que se recuperava de uma cirurgia no tendão de Aquiles. Seu corte de última hora deixou o técnico Ernst Happel com sérias limitações ofensivas.



 A polêmica ausência de Dieter Schatzschneider

O caso mais intrigante foi o do centroavante Dieter Schatzschneider, contratado para substituir Hrubesch e ídolo da torcida do Hannover. Apesar de ser titular em toda a temporada, ele nem sequer foi relacionado para a final contra o Grêmio.

A imprensa brasileira não entendeu a decisão. Nem Zero Hora, nem Correio do Povo ou Folha da Tarde explicaram o motivo de sua ausência. Galvão Bueno, que narrava a partida pela Rede Globo, chegou a confundir os nomes durante a transmissão, tamanha a falta de informações oficiais.

Com o tempo, surgiram duas teses:

  • A do desentendimento, segundo a qual Schatzschneider teria se desentendido com colegas e com o treinador Happel após ser substituído na derrota para o Stuttgart dias antes do Mundial.

  • A da lesão, que indicava uma possível contusão que o teria impedido de atuar.

Fontes europeias posteriores, como a revista World Soccer e a alemã Der Spiegel, reforçaram a primeira versão: o jogador teria sido afastado por problemas disciplinares. Happel, conhecido por sua rigidez, o teria considerado “um verme” em comparação com o capitão Felix Magath.

O centroavante ainda participou da Supercopa Europeia dias depois, mas foi dispensado no fim da temporada. A ausência em Tóquio foi o ponto final de sua passagem pelo clube.



 Um elenco em reconstrução e um treinador intransigente

Ernst Happel era um dos maiores técnicos da Europa, campeão europeu com o Feyenoord em 1970 e com o próprio Hamburgo em 1983. Porém, seu estilo autoritário e conservador dificultava a convivência com jogadores mais jovens.

O austríaco confiava em um elenco experiente, com líderes como Magath, Rolff, Jakobs, Wehmeyer e Hieronymus, mas sofria com a falta de reposição à altura. Seu modelo de jogo valorizava a disciplina tática e o jogo físico, características típicas do futebol alemão da época, mas pouco adaptadas à intensidade do calendário internacional.

A decisão de não substituir nenhum jogador durante o Mundial, mesmo estando atrás no placar, ilustra bem o perfil de Happel. Ele acreditava que a estrutura da equipe era mais importante que improvisações táticas, ainda que o time mostrasse sinais de cansaço e limitação técnica.

                    



 De Atenas a Tóquio — o impacto da transição

Enquanto o Grêmio chegava motivado e em plena forma, o Hamburgo acumulava desgaste. A derrota para o Stuttgart na Bundesliga, quatro dias antes da viagem, havia custado a liderança e interrompido uma invencibilidade de 48 jogos em casa.

Além do baque psicológico, o elenco enfrentava uma maratona de jogos continentais e nacionais. Happel ainda teve de lidar com o clima interno pesado, agravado por brigas e pela falta de renovação.

Mesmo assim, o Hamburgo ainda era um gigante europeu, dono de um sistema defensivo sólido e de uma das escolas mais respeitadas do futebol germânico. Seu estilo disciplinado contrastava com a ousadia e a técnica brasileira do Grêmio — e esse choque cultural seria decisivo na final.

  



 O peso da camisa europeia

Na época, a imprensa europeia tratava a Copa Intercontinental com certo desdém, mas na Alemanha o sentimento era diferente. O Hamburgo via a disputa como uma chance de consolidar sua hegemonia continental.

Felix Magath, capitão e craque do time, afirmou antes do jogo que o clube “jogaria com a mesma seriedade de uma final da Europa”. O discurso mostrava que, embora enfrentasse dificuldades, o Hamburgo não tratava o Mundial como amistoso.

O clube era, afinal, o campeão europeu de um país campeão mundial, e chegava ao Japão como favorito — mesmo sem Kaltz, Hrubesch e Milewski. A derrota para o Grêmio, portanto, foi mais do que um resultado esportivo: representou o fim simbólico da era dourada do futebol alemão dos anos 70 e início dos 80.



 Conclusão — o gigante cansado e o nascimento de um mito

O Hamburgo de 1983 não foi um adversário desinteressado ou irrelevante, como alguns críticos sugeriram ao longo das décadas. Pelo contrário, era uma equipe poderosa, embora enfraquecida por lesões e conflitos.

A final contra o Grêmio simbolizou o encontro entre duas filosofias: a disciplina germânica e a criatividade brasileira. No fim, venceu o improviso, a garra e o talento de Renato Gaúcho, mas o respeito ao adversário europeu é parte essencial da narrativa histórica.

O clube hanseático, mesmo derrotado, consolidou-se como o último grande time alemão antes da era Bayern de Munique moderna. Sua trajetória até Tóquio é uma aula sobre gestão esportiva, liderança e as dificuldades de manter um elenco campeão.



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✍️ Sobre o autor

Márcio Oliveski é criador do blog Grêmio Histórico, Criador de conteúdo esportivo e pesquisador da história do Grêmio. Apaixonado pelo Tricolor, dedica-se a resgatar memórias e curiosidades que marcaram gerações de torcedores.

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